CARTA ABERTA A DEUS
- Solange Pereira
- 11 de ago. de 2017
- 4 min de leitura
“Deus criou os céus e a terra. Criou as estrelas, o ar, as plantas, os animais e, finalmente, E L A criou o homem.” (Gênesis. segundo as feministas alemãs)
Senhora Chefe da Reserva Biológica da Mata Escura,
Tenho me manifestado diligentemente junto a vós nesses últimos anos, fim de salvar a alma de minha fazenda. E mais repetidamente, ainda, nestes 2 anos e meio, em que uma parte da fazenda foi invadida. Pobres Fazendas Nova Suissa I e II, desmontadas e devastadas pela graça da administração do ICMBio! Agora respondo publicamente ao vosso ofício do começo de junho último.
ONDE ESTAVA O ICMBIO?
Atualmente, a vertente da fazenda, invadida há dois anos e meio, foi vítima de outra catástrofe: o desmatamento de mata e área protegida nos entornos e cabeceira do córrego da Mumbuca e das nascentes que nele deságuam, e a micro bacia exposta à erosão, para ali se criar uma infra-estrutura de criação de gado e consolidar uma invasão.

"Fazenda de gado" em zona protegida de microbacia do córrego da Mumbuca. Implantação EM final de 2016: o ICMBIO NÃO VIU?
Apesar dos meus alertas constantes, não foi tomada nenhuma providência por vós, a fim de impedir a catástrofe.
Vós dizeis nunca ter estado nessa parte da Fazenda Nova Suissa, à beira da estrada, terreno de disputa entre o ICMBio e a Associação Quilombola; onde houve acidente fatal com carro do ICMBio; parece não saber que ali se situa a cabeceira do córrego da Mumbuca e diversas outras nascentes; afirma que nada viu, que nada soube; que não ouviu o barulho de patrola e tratores arrebentando a mata na cabeceira e no entorno do córrego e das demais nascentes, à beira da estrada da Mumbuca-Jequitinhonha.
Mais um pequeno esforço, e podereis dizer que não sabeis nem onde fica a tal da Mata Escura. Ora, Deus!
Melhor ainda: o indivíduo invasor, que mantinha pássaros engaiolados, afirma que as aves não eram dele, e as arapucas destruídas pela Polícia também não, mas de sua mulher.
Está tudo claro: o espírito de Mariza Letícia é que paira sobre a Reserva Biológica da Mata Escura, pelo menos na área da Fazenda Nova Suissa II. O espírito da irresponsabilidade total e sobrenatural.
Em nome da Lei nº 12.527, da Transparência, de 18 de novembro de 2011, que regula o acesso a informações para os cidadãos, exigi de vós que me disponibilizasseis os autos de infração efetuados em desfavor do invasor. Com base em meus direitos como proprietária, e não tendo concedido nenhuma autorização de uso da terra ao indivíduo invasor. Com recusa de vossa parte. Mas, hoje em dia, nada permanece secreto: já sabemos, a multa foi de treze mil reais para os pássaros em cativeiro.
Muito bem. E pela degradação ambiental: hum mil reais! Hum pau! Hum milim! Hum desaforo! Huma vergonha! Ao diabo com os desígnios secretos de Deus!
A desmoralização da chefia da Rebio Mata Escura é completa, pois não cumpre suas obrigações de proteger a Mata. Seja ela permitiu o desmatamento na Fazenda Nova Suissa II, seja ela fez de conta que não viu e incentiva mais, com multas inadequadas. Mesmo Deus deve explicações ao seu povo. Uma sociedade precisa de regras claras para viver.
DEUS ESTÁ ACIMA DAS LEIS,
por óbvio
Vós garantis que a afirmativa do antigo posseiro, de nome Fulano Doido, nome que já é todo um programa, de ser proprietário da fazenda, “consolida o entendimento de que ele seja realmente proprietário”. E com base nisso estais fazendo a regularização fundiária em seu nome: é o samba dos crioulos doidos?
Como sou um ser humano normal, eu confio na lei, e nas certidões dos cartórios. Vós, como Deus, não acreditais, parece, nos cartórios, nem nas leis de proteção do Meio-Ambiente, mas só no próprio capricho.
E afirma ser “a culpa nossa, que permitimos a presença de posseiro em nossas terras”. Pois é, assim somos nós, os proprietários rurais: um coração de ouro num peito de ferro. Mas fazer reformazinha agrária ou mudar decisões do quem é quilombola ou não, por conta própria, só Deus tem peito prá fazer, como fazeis de fato.
Os produtores e proprietários rurais, somos todos as Maria da Penha do ICMBio.
Vós afirmais, em seu ofício, que tento virar um assunto pessoal meu em bandeira de todos os proprietários. BINGO! Qual a idéia de base para a criação de sindicatos de classe? Adivinhe.
O que levou Maria da Penha a deixar o aconchego do lar e botar a boca no trombone, que resultou na Lei Maria da Penha? Adivinhe. Os produtores e proprietários rurais, somos todos a Maria da Penha do ICMBio.
Haja vista o acontecido com um colega de mais de 80 anos, iludido com a gambiarra de um ”certificado provisório” do ICMBio,e impedido, na última hora, de vender suas terras. Esse desrespeito nos atinge a todos, seus colegas.
Mas, se mal pergunto, dizei qual postura deveria ser a minha, para a maior satisfação de Deus? “Idosa, temente a Deus, recatada e do lar?” Saibais que já gritei pela Polícia Federal, quero ver aqui a aparição de arcanjos japonêses, para apurar a responsabilidade desses malfeitos.
Acatai meus protestos. Na mais elevada estima e consideração, subscrevo-me
Solange Pereira, proprietária rural sem terra, indignada pelo desaparecimento de sua mata e com os caprichos de deus.
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